Dossier

A cura da lepra pelo assacú: a polêmica médica e torno da utilização da erva no Pará

La cura de la lepra con assacú: la controversia médica en torno al uso de la hierba en Pará

The cure of leprosy using assacú: the medical controversy surrounding the use of the herb in Pará

Túlio Brenno Brito de Sousa
Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Brasil

Estudios del ISHIR

Universidad Nacional de Rosario, Argentina

ISSN-e: 2250-4397

Periodicidade: Cuatrimestral

vol. 13, núm. 37, 2023

revistaestudios@ishir-conicet.gov.ar

Recepção: 18 Agosto 2023

Aprovação: 27 Setembro 2023

Publicado: 30 Dezembro 2023



DOI: https://doi.org/10.35305/eishir.v13i37.1864

Resumo: Ao pesquisar sobre o conflito pelo mercado da cura entre homeopatas e alopatas no Pará, observa-se uma grande polêmica envolvendo supostas curas da lepra com a utilização da erva medicinal assacú. A trajetória do médico homeopático Zacheu Cordeiro e do colombiano Mamerto Cortés, se popularizará o tratamento com a pomada de assacú que dará início à polêmica na região. Entender as origens do assacú e como a homeopatia se apropria do conhecimento acerca do remédio, e ao mesmo tempo, utiliza o tratamento como arma para o embate contra a alopatia fazem parte das discussões contidas nesse trabalho.

Palavras-chave: Assacú, Lepra, Homeopatia, Alopatia, Amazônia.

Abstract: While researching the conflict over the cure market between homeopaths and allopaths in Pará, I came across a huge controversy involving supposed cures for leprosy with the use of the medicinal herb assacú. The trajectory of the homeopathic doctor Zacheu Cordeiro and the Colombian Mamerto Cortés, will popularize the treatment with assacu ointment that will start the controversy in the region. Understanding the origins of assacú and how homeopathy appropriates knowledge about the remedy, and at the same time, uses the treatment as a weapon in the fight against allopathy are part of the discussions contained in this work.

Keywords: Assacu, Leprosy, Homeopathy, Allopathy, Amazon.

Resumen: Mientras investigaba el conflicto sobre el mercado de las curas entre homeópatas y alópatas en Pará, me encontré con una gran controversia que involucraba supuestos métodos de curación para la lepra con el uso de la hierba medicinal assacú. La trayectoria del médico homeópata Zacheu Cordeiro y del colombiano Mamerto Cortés, popularizará el tratamiento con pomada de assacu que iniciará la polémica en la región. Comprender los orígenes del assacú y cómo la homeopatía se apropia del conocimiento sobre el remedio y, al mismo tiempo, utiliza el tratamiento como arma en la lucha contra la alopatía son parte de las discusiones contenidas en este trabajo.

Palabras clave: Assacu, Lepra, Homeopatía, Alopatía, Amazonas.

Introdução

Desde a origem da medicina a prática médica esteve ligada a diversas correntes filosóficas. Hipócrates por exemplo, destacou duas formas em que a medicina poderia se pautar: a cura pelo contrário da doença e a cura pelo semelhante. (Corrêa, Quintas, Siqueira-Batista y Siqueira Batista, 2006). Em meio ao processo conturbado de formação da identidade médicas no decorrer do tempo a cura pelo contrário da doença, a alopatia, passou a dominar o mercado da cura. Contudo, houve outras filosofias médicas que, geralmente, quando havia crises sanitárias colocavam em xeque a eficácia dos tratamentos alopáticos. Essas alternativas de cura buscavam alcançar, em diversos casos, o patamar de ciência médica, elas disputavam para estabelecer o seu espaço na sociedade. A homeopatia era uma das filosofias que se destacavam nesse sentido.

A homeopatia surge na Alemanha com os estudos do Dr. Samuel Hahnemann. Alopata de formação, ele sofre uma série de desilusões com a prática médica, resolve então se afastar da clínica e dedicar-se ao estudo teórico e tradução de obras antigas. Hahnemann passou a se interessar pelo estudo das matérias médicas e a produzir vários volumes de um Dicionário Farmacêutico. Durante o processo de tradução de obras médicas, encontrou trabalhos de médicos que o influenciaram a pensar uma nova prática médica e um desses autores foi o escocês William Cullen. Cullen teria descoberto a cura da malária através do uso da cinchona. O trabalho do escocês influenciou Hahnemann que resolveu aplicar um pouco da casca da cinchona em si próprio como um indivíduo são. Febre alta, tremores e dores nas articulações foram os sintomas que surgiram em seu corpo, sintomas similares aos da malária. Esse caso teria sido o ponto inicial que levou o médico a formular uma das principais características da homeopatia: a lei dos semelhantes, através de doses infinitesimais. A ingestão de um medicamento em um indivíduo são, serviria para provar a capacidade de um remédio homeopático. Se esse medicamento for capaz de produzir sintomas semelhantes ao da doença em um indivíduo sem a doença, representava que ele era eficaz. Essa experimentação levaria o médico a receitar ao seu paciente pequenas doses intervalares do medicamento. A intenção era provocar no corpo do enfermo uma “doença artificial”, onde o seu organismo que já luta contra doença, ocasione uma sobreposição da doença artificial contra a doença natural, promovendo o equilíbrio do organismo do paciente (Madel, 1996).

Hahnemann começou a moldar a sua prática médica através do princípio Similia Similibus Curantur de Hipócrates, onde o semelhante cura-se através do semelhante. Além disso, nota-se também a influência das teorias vitalistas alemãs do século XVIII. Assim se introduz a força vital, princípio imaterial que sustenta a vida humana, responsável direto pelo equilíbrio orgânico do corpo que se representa como saúde, o simples desiquilíbrio dessa força, seja por influência interna (vírus, bactérias e etc) ou externa (relações sociais) geram a doença. A força vital sustenta a vida orgânica, são forças complementares, sendo a força vital invisível e imaterial, ela só pode ser percebida pelos seus efeitos no organismo (Sigolo, 2012: 20).

Hahnemann baseia a sua filosofia médica na experimentação dos seus medicamentos. Com o objetivo de comprovar a sua eficácia, o medicamento homeopata deve produzir em um indivíduo saudável os mesmos sintomas da enfermidade que queira tratar. Essa teoria ia de contra a alopatia e um dos descontentamentos do alemão acerca da ciência médica oficial. Ele classificava a alopatia demasiadamente hipotética nos seus métodos, e enxergava isso como um erro. A conduta médica correta em que um médico deveria ter acerca da anamnese do enfermo seria pautada na experiência somado a observação dos sintomas, de onde a análise seria extraída dos fenômenos observáveis. O médico deveria ter como conduta optar por utilizar a terapêutica menos agressiva do que a própria doença, e a forma mais correta para chegar a esse resultado seria seguir três princípios básicos: prescrição individualizada, a lei dos semelhantes e as doses infinitesimais (Rebollo, 2008: 25).

Hahnemann busca outros métodos utilização dos medicamentos e terapêuticas médicas. Para o alemão a prática alopática era ineficiente e degradava demais o corpo do enfermo. Ele então resolve cunhar uma nova terapêutica cuja base medicinal envolve o manejo e a ministração dos remédios em doses menores, diluídas, com dinamização e potencialização, levando em conta os efeitos para quem recebe as doses. Era necessário, portanto, a individualizar o paciente, isso requer, uma anamnese diferente por parte do médico. Ele deixa de enxergar a doença como algo geral que apresenta os mesmos sintomas em diversos indivíduos variando somente a gravidade, para enxergar a doença como algo individual de cada paciente. Para saber a dose e a dinamização do remédio, o homeopata necessita passar por uma entrevista detalhada com o seu paciente, a fim de entender as causas da sua doença e abrir o leque de possibilidades para possibilidades que vão além do orgânico, em outras palavras, a economia, as relações pessoais, problemas no trabalho entre outros fatores poderiam contribuir pro aparecimento da doença. Por isso, um homeopata poderia até receitar o mesmo remédio para um grupo de pacientes que apresentam os mesmos sintomas, porém a aplicação das doses variava de acordo da demanda individual de cada um. Em sumo, a medicina proposta por Hahnemann buscava tratar o doente e não a doença (Rebollo, 2008: 120).

Hahnemann sofreu diversas influências para avançar no desenvolvimento da sua prática médica. Uma dessas influências vem da física de Isaac Newton daquilo que ele entendia sobre “materialismo substancial”. Newton defendia que toda matéria possuía ativos corpóreos ou incorpóreos (entendido aqui como força vital) que poderiam interagir nos processos químicos e fisiológicos do organismo. Para Sigolo (2012: 17-18) “A interação ou o movimento entre os corpos, no caso dos princípios incorpóreos, não ocorre através do contato, mas pela transferência do movimento à distância, por meio de uma força intrínseca à matéria”. A base da farmacêutica Hahnemann passa pela à sua concepção de força vital e a dinamização dos medicamentos, buscando aproximação com a teoria de Newton sobre atração e repulsão da matéria. Até mesmo observação dos efeitos do medicamento e as experimentações, seriam herança da influência exercida por Newton.

Portanto, observamos que nesse aspecto do que Hahnemann pensou a sua prática médica e das influências que recebeu nesse período moldou a construção das bases da homeopatia. Em alguns pontos, a homeopatia aparece como o inverso do que era a prática dos médicos alopatas, quase como uma obra com a finalidade de criticar e dá uma solução a um problema. Era inevitável que a homeopatia não sofresse duras críticas da medicina alopática, pois muito mais do que uma rival, surgia ali uma concorrente direta sobre o monopólio do mercado da cura. Diversas estratégias então foram criadas para desmobilizar o avanço das ideias de Hahnemann. O conceito de força vital, por exemplo, presente na homeopatia foi utilizado como chacota por parte da alopatia que classificava esse conceito como um retorno ao mundo medieval onde a medicina e a religião andavam juntas (Queiroz, 1986: 45). A institucionalização da medicina tornou o saber médico um campo da ciência, a partir da criação de universidades e cursos médicos e esse saber médico era justamente baseado na alopatia. Esse espaço cada vez maior e mais científico que a medicina se introduzia, acirrava a disputa com outras práticas médicas ao mesmo tempo que limitava a atuação das mesmas (Queiroz, 1986: 50).

No Brasil a homeopatia está ligada diretamente com a trajetória do médico francês Benoit Mure, um grande entusiasta das ideias de Hahnemann e no país teve um trabalho de divulgação e de defesa da prática médica homeopata. Assim como na Europa, no Brasil a homeopatia sofreu resistência por parte dos alopatas visto a disputa do mercado da cura no país. Ao longo do tempo essa disputa ganhou o status de conflito, onde cada medicina buscava meios que lhes eram acessíveis para assumir um papel de destaque dentro desse mercado e, também do meio filosófico, científico e técnico. Portanto, este artigo tem como objetivo analisar o conflito entre alopatas e homeopatas no estado do Pará através da polêmica cura da lepra a partir do assacú no início do século XX. A trajetória do médico homeopata Zacheu Cordeiro e do seu sócio o colombiano Mamerto Cortés, analisaremos as origens do medicamento e as suas nuances na sociedade paraense, bem como as estratégias utilizadas pelos médicos alopatas para coibir a utilização medicamento. Veremos também, dentro do contexto homeopático, o esforço de Zacheu Cordeiro para divulgar a sua prática em solo paraense e a disputa pela patente do medicamento de assacú.

1- Homeopatia e a lepra no Pará.

Os caminhos da medicina no Brasil estão, muitas vezes, ligados a crises sanitárias em que o país foi submetido. No que tange o século XX, epidemias de cólera, lepra, febre amarela entre tantas outras promoveram um mudanças de paradigmas no meio médico. As crises de saúde pública como classificou Madel Luz (1996) tem diversos fatores que emergem de dentro da própria sociedade, visto que essas crises se relacionam tanto com a prática médica e a incapacidade dessa de se organizar para combater as doenças, como também aspectos sociais, econômicos e culturais do país. As desigualdades que acompanham a história do Brasil, refletem diretamente nas crises de saúde em que o país passa. A pequena quantidade de profissionais de saúde, as desigualdades sociais e os preços cobrados pelos práticos afastam a medicina científica de uma parte considerável da população brasileira ao mesmo tempo que a aproximam de medicinas populares. Essa aproximação não está condicionada somente a questão econômica dos pacientes, mas também a sua cultura. E em muitos casos de crises sanitárias que práticas alternativas de cura ganham espaço na sociedade brasileira.

Um bom exemplo pode se relacionar diretamente com esse artigo, visto que os primeiros registros da homeopatia no Pará datam, justamente, do surto de cólera no estado em 1855. No meio da confusão com o início da epidemia de cólera no estado e as ações controversas da medicina alopática que contribuíram para a disseminação da doença entre os cidadãos, muitas críticas e questionamentos sobre a prática médica começaram a surgir da população paraense. Essas ações desastrosas, como por exemplo o negacionismo da doença e a permissão do desembarque de infectados de um navio que levou ao surto de cólera, não geraram somente questionamentos sobre a eficácia da ciência médica, mas como também deram brecha a novas práticas de cura (Sousa, 2020). Os jornais da capital paraense estampavam fórmulas homeopáticas nas suas páginas que geravam bastante polêmica entre o meio médico. O Dr. Francisco da Silva Castro, chega a enviar um ofício com reclamações ao Presidente da Junta Central de Higiene Pública do Rio de Janeiro, cobrando fiscalização a essa “perigosa prática médica” que ganhavam espaço nos jornais (Beltrão, 1997:20). Após 1855, só conseguimos encontrar novos relatos de homeopatas no Pará com o médico Zacheu Cordeiro durante a epidemia de lepra.

No Pará, durante o surto de lepra, surge a figura do médico homeopata Zacheu Cordeiro, bem como do colombiano Mamerto Cortés. Ambos ganharam as páginas dos jornais paraenses devido a uma pomada que prometia a cura da lepra. O Dr. Zacheu Cordeiro já possuía certa fama na capital paraense, Belém, pelo seu trabalho médico, contudo, não havia ganho tanto destaque como teve a partir do seu contato com Mamerto Cortés. Zacheu Cordeiro foi um médico paraense, formado pela Faculdade de Medicina da Bahia e que durante a sua trajetória enveredou no caminho da homeopatia e por lá seguiu. Já Mamerto Cortés, as suas informações são escassas, sabe-se que anteriormente a chegada ao Pará, ele havia passado pelo Acre. Mamerto Cortés chega em Belém se denominando médico, porém nunca conseguiu provar que tinha formação (Sousa, 2021). Mais adiante será trabalhado o contato entre esses dois sujeitos. A divulgação da suposta cura da lepra pelo assacú causou controvérsia em torno da eficácia ou não do medicamento.

A polêmica acerca da cura da lepra fará com que o conflito entre os médicos homeopatas e alopatas seja vista de forma mais evidente no Pará no início do século XX. Conceituar a lepra e as mazelas físicas e sociais que ela causa no infectado, é de suma importância. A lepra, ou hanseníase como é conhecida atualmente, é uma doença de pele, causada por uma infecção bacteriana (Mycobacterium leprae) afeta, principalmente, os tecidos e os nervos periféricos (braços e pernas). A doença se divide em duas formas, nomeadas de polares. Uma é a lepromatosa, sua forma mais aguda e contagiosa, a outra é a tuberculóide forma mais leve. A doença se espalha através do muco nasal, da saliva, das lesões cutâneas ou supurosas do infectado em contato com um outro indivíduo saudável. Para Rodrigues (2008: 31) no Pará do século XIX, possivelmente, os médicos da região já sabiam sobre a transmissão por meio do contato com os mucos do infectado, porém também sustentavam a hipótese que a doença fosse também transmitida por insetos ou mosquitos.

A doença causa feridas na pele que provocam sofrimento ao paciente com a degradação do seu corpo. Para além da degradação física, a lepra também causa uma flagelação social. Com registros desde a antiguidade, com presença marcada na bíblia, a deformação da pele era vista como deformação da alma e um castigo divino (Pinto, 1995: 137).

A Igreja Católica contribuiu para esse entendimento, pois, corroborou com a estigmatização da doença na sociedade, apesar de incentivar a caridade com o leproso. Em 1873, um periódico da igreja católica paraense, intitulado de Boa Nova, publicava o seguinte texto (Apud Couto, 2012: 155).

É a lepra uma enfermidade asquerosa, horrenda, dolorosa e de dificílima cura. Formam-se aqui e ali no corpo manchas escuras ou esbranquiçadas, que vão degenerando em empolas purulentas, até tornarem-se, enfim, úlceras medonhas. O rosto decompõe-se ou deforma-se a tal ponto, que uns apresentam a feia catadura do leão, outros do elefante. Corre do nariz nojenta serosidade, os olhos ficam embaciados e sem lume; a fala rouca e estridente: incham e racham as mãos e os pés, e vão caindo primeiro as unhas, depois os dedos, depois as mesmas mãos e pés, até que fica aquele tronco disforme, ainda com vida, mas já exalando um hálito de morte, horror e consternação de quem ousa contemplá-lo. Assim roído de tristezas, segregado dos homens, privado de todos os confortos da família e da sociedade, e até do seu próprio corpo em grande parte privado, consome-se em lenta agonia o mísero leproso, de quem todos fogem, espantados, temendo contágio de tão terrível moléstia.

O estigma da lepra é ressaltado pelo redator do jornal. Podemos observar um relato com tons de medo e de noções distorcidas sobre a doença. A doença surge como um sinal de pecado, que devora o corpo e a alma lentamente. A cura era vista de outra forma como uma raridade, para uns os infelizes infectados já estavam mortos, para outros ainda eram passiveis de um milagre divino tal como está escrito na bíblia com a passagem de Lázaro (Couto, 2012:165).

A falta de um tratamento específico para a lepra, assim como o medo da sociedade com a contaminação, induziu como resposta governamental e das juntas médicas a alternativa da criação de leprosários e o isolamento dos leprosos. O governo paraense, encabeçado pelo intendente Antônio Lemos cria Hospital dos Lázaros do Tucumduba. Localizado em uma região periférica de Belém e bem distante do centro da cidade, dezenas de enfermos foram recolhidos e isolados da sociedade e de sua família. Não demorou a surgirem os boatos de maus tratos e agressões aos pacientes, esses boatos espalhavam medo pela cidade e faziam com que muitos dos que tinham lepra fugissem e não procurassem ajuda médico para não serem mandados ao leprosário. A lepra também tinha o estigma de uma doença de escravos, visto que a população negra apresentava as maiores taxas de infectados no Pará. Portanto, a assistência a esses doentes não recebia tantos recursos (Couto, 2012: 169). Para além do estigma, as altas taxas de infectados entre os escravizados denunciavam as condições precárias ao qual eram submetidos.

Foram feitos por parte do intendente Antônio Lemos novos investimentos para a criação de outros asilos, dessa vez em munícipios distantes de Belém. A partir de 1910, se observou reuniões médicas preocupados com as medidas de contenção da doença, além de campanhas de arrecadação de doações para a construção de um novo leprosário. O combate à doença passou para a União, que com muito esforço, transferiu o leprosário da capital para o interior do estado. O leprosário do Prata criado em 1924, às margens da estrada de ferro que ligava Belém ao município de Bragança, passou a receber os enfermos da capital Belém (Rodrigues, 2008:112). O medo e a falta de tratamento levaram os leprosos e as suas famílias a recorrerem cada vez mais a remédios que prometiam curas milagrosas, e é justamente nesse contexto que observamos a rápida utilização e a popularização do tratamento do assacú no Pará através de Mamerto Cortés.

2. Sócios, curas e assassinato

O que parecia ser uma terça-feira qualquer na rotina do Dr. Zacheu Cordeiro, acabou sendo o dia do seu assassinato. Era 08 de abril de 1924, como de rotina, o médico homeopata caminhava em direção da Parochia de São Raymundo no centro de Belém. Na paroquia alguns, enfermos estavam à sua espera, o Dr. Zacheu Cordeiro tinha como costume atender de forma gratuita membros da paroquia que não possuíam condições de pagar pelas suas consultas. Mas nesse dia o médico não compareceu a consulta, pois perto da paroquia, houve um atentado “um pobre coitado estava jogado em uma calçada, entre a vida e a morte” destacava um jornal da época. O vigário da paróquia foi chamado às pressas para conceder a extrema unção ao sujeito, padre Faustino, correu e ao encontrar o necessitado que jorrava sangue e cujo rosto se encontrava desfigurado por tiros, percebeu que se tratava do Dr. Zacheu Cordeiro.[1]

A vítima do assassinato, o Dr. Zacheu Cordeiro, foi um médico pela Universidade de Medicina da Bahia, no ano de 1905. Nasceu no Pará e depois de formados resolveu voltar para a sua terra para clinicar. Aqui, Dr. Zacheu Cordeiro se converteu homeopata, após alguns anos formado e abriu uma botica de remédios homeopáticos, que se tornou um negócio familiar. Sua filha, Júlia Cordeiro, era quem tomava conta, enquanto ele saía para clinicar. Não há informações de como o médico se converteu a homeopatia.

Zcaheu Cordeiro se tornou famoso em Belém por redigir diversos artigos em um jornal local, O Estado do Pará, único periódico que havia lhe concedido espaço para apresentar as suas ideias, defendendo a prática homeopática. Além da fama pela homeopatia, o doutor passou a ficar reconhecido ao revelar uma suposta cura de um de seus pacientes contaminados pela lepra por meio de uma erva chamada de assacú.

Zacheu Cordeiro era muito bem-quisto na sociedade belenense. A suposta cura da lepra pelo assacú foi atribuída a Oswaldo Castello Branco, filho de Manuel Castello Branco um estimado musicista paraense. O musicista, depois de recorrer a diversos médicos para que tratassem o seu filho diagnosticado com lepra, conheceu tratamento do dr. Zacheu Cordeiro e resolveu confiar no medicamento. O médico tratou o filho do músico com sua fórmula composta por “tintura de pirarara, extrahida do fígado de um peixe (...) existente no rio Amazonas” junto com a tintura do assacú. Após um rigoroso tratamento com a fórmula do médico homeopata, o jovem começou a apresentar melhoras aos poucos. Em março de 1921 o Oswaldo Castello Branco foi intimado a comparecer a Commissão de Prophylaxia Rural, para que fossem feitos exames de sangue e muco nasal, comprovou-se “não existir mais a lepra”. Segundo depoimento de Manuel Castello Branco ao jornal, ele teria recebido um cartão dando resultado do exame que dizia o seu filho não conter mais a doença que teria sido mostrado à redação do jornal.[2] O redator da Folha do Norte, afirmou que todo esse depoimento foi prestado pelo musicista, que procurou a redação do jornal para contar a história em agradecimento ao Zacheu Cordeiro. O caso repercutiu muito na sociedade paraense, visto que se tratava da cura da lepra, a cidade ganhava uma esperança de se ver livre da mazela daquela doença. O depoimento ter vindo de um músico renomado na sociedade paraense, atribuía credibilidade a história.

A notícia não ficou presa em solo paraense e acabou sendo publicada por diversos jornais no Brasil à fora, como, por exemplo, o Folha do Acre,[3] Jornal Pequeno do Maranhão[4] e O Paiz do Rio de Janeiro.[5] O último inclusive destacava que as “tinturas homeophathicas, que deram grandes resultados na clínica de Bento Mure, nos Estados Unidos da América do Norte” também já eram empregadas pelo “sr. Cortes, na sua clínica”. Mais adiante entenderemos melhor sobre o Sr. Cortez. Ao final, o redator destacava a formação médica do Dr. Zacheu Cordeiro, dizendo que possuía carta de formação registrada pela “Directoria Geral de Saúde Pública e pelo Serviço Sanitário do Estado” e ainda ressaltava que o Dr. Zacheu “assistiu o sr. Cortez desde a sua chegada em Belém, e sobre os processos de sua cura, tem escrito várias vezes no ‘Estado do Pará’”.[6]

No caso da cura do filho do músico, que atribuiu a fama ao Dr. Zacheu Cordeiro, notamos que o médico divulgou aspectos importantes do tratamento ao paciente. A utilização de um peixe nativo da bacia amazônica, além da erva do assacú foram as informações contidas no jornal. Essa pode ter sido uma forma de o médico mostrar a sua confiança sobre no remédio, chegando até a divulgar como funcionava o tratamento.

Mas afinal, quem interrompeu essa trajetória de sucesso? Zacheu Cordeiro foi assassinado e o crime foi passional. Da cena do crime, foi avistado um suspeito partindo em fuga, devido à grande movimentação do centro da cidade, ele logo foi capturado, o assassino era Mamerto Cortez. Para entender os motivos que levaram ao assassinato, precisamos voltar para o ano de 1921, que marca o desembarque de Mamerto Cortés a Belém. Vindo do Acre, trazendo consigo a fama de ser um leprólogo e possuir a cura para a doença. Em Belém, o colombiano ficou hospedado na casa do professor Level Góda, como noticia o Folha do Norte. O jornal não traz qualquer informação sobre a ligação entre o colombiano e o professor, apenas informa que lá estava hospedado o detentor da cura da lepra e na matéria traz o relato do Sr. Francisco Rodrigues, um vizinho que relatou que o colombiano recebeu diversas visitas durante o dia. Todos sabiam que na casa do professor Level havia um leprólogo que continha uma suposta pomada que gerava a cura da lepra em um curto período. O vizinho informou ter visto diversas vezes, pessoas “decentemente vestidas” entrarem na casa de número 36 da Rua Santarém, a casa que hospedava o colombiano. A fama do suposto médico levou a Profilaxia Rural, a confiscar alguns dos frascos do remédio, e exigiu a fórmula que foi negada por Mamerto.[7]

A visita da Profilaxia Rural ocorreu devido a uma denúncia de que Mamerto Cortés não possuía diploma médico, logo ele foi taxado de charlatão, e passou a se sentir perseguido, já que recorrentemente teve vários dos seus frascos de remédios confiscados. Mamerto Cortés, não conseguiu mais vender os seus remédios devido a fiscalização, e isso gerou uma doença severa, que alguns médicos, inclusive, chegaram a desiludi-lo sobre a cura. Foi então, como última esperança, que o colombiano aceitou receber a visita do médico homeopata, o Dr. Zacheu Cordeiro. Depois de uma longa conversa, Zacheu Cordeiro chegou à conclusão de que a doença não vinha de um patógeno biológico e sim da pressão que Mamerto Cortés vinha sofrendo da classe médica. Como tratamento, ele o aconselhou o colombiano a resolver o quanto antes a sua situação, indicando se aliar a um médico com prestígio na capital, para que o problema da falta de um diploma médico não o impedisse de vender os seus frascos de remédio contra a lepra. Surpreendido com a abordagem do homeopata, Mamerto Cortés convidou-o para ser o seu sócio e protetor, no negócio do medicamento de assacú (Sousa, 2021:35).

O Dr. Zacheu Cordeiro aceitou o convite e saiu em defesa de Mamerto Cortés publicando diversos artigos no jornal O Estado do Pará. Ele também aproveita o espaço do jornal para expor pontos sobre o método de cura de Mamerto e questionar a perseguição sofrida por ele:[8]

(...) Se não fôsse médico o dr. Mamerto mas trouxesse-nos o remédio da lepra mesmo empiricamente estudada, não deveria ser aceito?

Foi Talbot, curandeiro inglez, que sabendo aohar-se doente um personagem ilustre, atacado de grave febre e cercado dos mais reputados medicos da época, que discutiam sem saberem debelar a moléstia, bateu-lhes á porta dizendo possuir o segredo de um maravilhoso remédio com que curaria o doente. Repelliram-no a princípio, mas depois de muito insistir deram-lhe assento. Para embaraçal-o, porém, um dos médicos presentes pergunta-lhe:

-Sabe o que é a febre? Diga?

-A febre responde o curandeiro, é uma doença que não sei definir, mas lhe garanto que sei curar, e que os senhores, ao contrário conhecem perfeitamente, mas são incapazes de combater.

O que nos adeanta vermos todos os microbios de Hansen revelados ao microscópio, e o apparelhamento de um laboratório, se temos de enfrentar o mal de braços cruzados e de nos humilhar ao considerarmos a nossa impotência deante de sua força?

No trecho final do artigo, Zacheu Cordeiro, fala sobre a falta de resposta da medicina alopática em relação a lepra. Ele critica a busca da ciência médica por querer entender em seu laboratório mais sobre o micróbio de Hansen, enquanto pouco se produzia acerca de um tratamento contra a doença. Nota-se a crítica do homeopata para com os médicos alopatas. Zacheu afirma que para alopatia, a descoberta da cura da lepra só seria considerada válida se saísse de um de seus laboratórios, vindo de um de seus práticos e com ideais alopáticos, e qualquer outra descoberta vinda de outra concepção médica não era aceita e nem se quer vista como possibilidade. Portanto, para o homeopata, eles não buscavam a cura da lepra, pois se buscassem aceitariam o assacú como possibilidade, o que eles realmente buscavam era uma cura que viessem do seu viés médico, para legitimar mais ainda a alopatia como ciência médica. Outro ponto que chama atenção é o fato de o Zacheu Cordeiro comprar a briga de Mamerto Cortés e o chamar de “médico” no início do seu artigo, mesmo com o colombiano nunca tenha conseguido comprovar a sua formação.

3. Assacú, assacú-rana e o conflito médico no Pará.

A polêmica envolvendo assacú e lepra, além do conflito entre homeopatas e alopatas, já estava instaurada na capital paraense. A dúvida que surgia girava entorno da fórmula da pomada que prometia a cura da lepra. Não há registros de como Mamerto Cortés chegou a sua fórmula que gerou a pomada da erva causadora de tanta polêmica. A utilização da erva não era inédita na região, há registros de que desde o ano de 1846 o assacú já havia registros de utilização em comunidades indígenas amazônicas para o tratamento de lepra e de sífilis. Inclusive, há relatos de uma suposta cura da lepra pelo assacú no ano de 1847 no estado do Pará, como veremos mais à frente. O desembarque de Mamerto Cortés na capital paraense reacendeu a discussão sobre o assacú como tratamento e cura da lepra no estado. Nessa ocasião o Dr. Zacheu Cordeiro aproveitou pra fezer a associação entre o nome do assacú e a homeopatia. No primeiro dia do mês de julho de 1921, o Dr. Zacheu Cordeiro publicou um artigo no jornal O Estado do Pará, com o título “A Palavra De Um Sabio: Ainda A Cura Homeopathica Da Lepra Pelo Assacú”9] .[Neste texto, o autor busca trilhar o caminho da homeopatia para mostrar a relevância e a eficácia do assacú no tratamento da lepra ao responder a uma nota da Sociedade Médico-Cirúrgica a qual negava a eficácia da planta medicinal para a cura da lepra. Zacheu Cordeiro apresenta o estudo de Charles Robert Richet, grande médico francês, tido como o descobridor da teoria da soroterapia e vencedor do prêmio de Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1913.

Ao iniciar o seu texto, Zacheu Cordeiro, relembra o início da polêmica envolvendo a suposta cura da lepra pelo assacú, quando há mais de um mês e meio, o homeopata havia se colocado de uma vez nos estudos da erva medicinal, acrescentando observações nos estudos de Mamerto Cortés. Durante esse período, o médico teria publicado a cura de alguns de seus pacientes, apresentando resultados satisfatórios a sua terapêutica. Contudo, ao invés de receber reconhecimento do meio médico, ele foi surpreendido com uma nota formal da Sociedade Médica-Cirúrgica paraense. Zacheu Cordeiro então responde dizendo que a nota da Sociedade Médica-Cirúrgica “procurou atirar á face da sociedade paraense um formal desmentindo á possibilidade dessa cura”. Ele complementa ressaltando que as “pequenas notas colhidas nos Annaes de Medicina Brasiliense” e mais “três ou quatro linhas do Brasil Medico comentando essas notas, e da autoridade nulla do Chernoviz”. Para o homeopata, a ação da medicina oficial paraense de deslegitimar o tratamento com assacú, se baseava em pequenos estudos publicados em revistas de medicina acadêmica, eram arbitrárias e não poderiam invalidar uma terapêutica que vinha apresentando resultados positivos. O autor ainda tece críticas a Chernoviz, a quem o Dr. Zacheu Cordeiro considerava uma autoridade nula. Em seus argumentos, o homeopata acrescenta que a referência ao médico polonês fazia com que se sacudisse o pó que cobria o seu trabalho ultrapassado, já em desuso ao embasar as “decisões de uma associação sábia”.[10]

Para Zacheu Cordeiro, a atitude da medicina oficial recaia como uma atitude desesperada para deslegitimar a prática homeopática, uma vez que “era preciso annullar a acção da homeopathia em face da sociedade, e fiel á deslealdade allopathica para com a escola hahmannnianna”. A ação da sociedade Médica-Cirúrgica paraense parecia vim no sentindo de desmoralizar o tratamento proposto pela homeopatia, como forma de defesa de sua prática médica. O Dr. Zacheu Cordeiro argumentava que esse movimento era uma forma desleal de tentar anular as descobertas da homeopatia para a sociedade.

O médico homeopata resolve rebater as críticas com ironia e ataques a alopatia, afirmando que “foram aproveitadas como tabuas de salvação as taes notas dos “Annaes”, e a affirmação desse grande mentor da confecção de xaropadas e pílulas indigestas (...)”. Zacheu Cordeiro, mostrava que as notas pouco interferiram nos seus estudos sobre os benefícios do assacú no combate a lepra e ainda aproveitava para resumir Chernoviz a um criador de xaropadas. Para finalizar ele expõe a sua opinião sobre o conflito contra a alopatia, dizendo que os “Mestres da homeopathia e da allopathia tem procurado fazerem vão unificar as escolas medicas, tem procurado fazer terminar esta luta eterna n campo da arte de curar”. Para ele esse conflito não deveria existir, porém a união entre as medicinas era atrapalhada pelo orgulho da escola médica alopática. De todo modo, ele acrescenta que a homeopatia vinha fazendo a sua parte em não se preocupar com os erros terapêuticos que os separam, pois “a sua preoccupação maior tem sido apontar o que nos approxima”.[11]

O autor continua construindo o seu texto explicando a ação dos remédios homeopáticos através do trabalho de um alopata de reconhecimento mundial, o Dr. Richet e a sua teoria da soropatia. A ação terapêutica ideal que um medicamento deveria exercer o seu princípio ativo através do enfermo, ou seja, “quer seja o agente therapeutico um soro ou um producto chimico, não se dirige directamente ao agente pathogenico para neutralizal-o e para anniquilal-o directamente”, porque a ação do remédio não poderia atacar a patogenia diretamente. A ação medicamentosa deveria auxiliar o corpo do indivíduo a produzir a cura da doença, “elle o solicita á cura como agente pathogenico o solicita á moléstia”. Portanto, a ação da soropatia se assemelhava com a ação da lei dos semelhantes. Ao buscar pela aproximação dos conceitos utilizando médicos de renome mundial, procurava trazer a confiabilidade que o autor necessitava para a sua terapêutica. As doses infinitesimais dos medicamentos homeopáticos não visavam “a morte do micróbio, mas acção reaccionaria do organismo, que é o verdadeiro medico, que precisa de auxilio no sentido em que está agindo e não embaraços ao seu esforço”.[12]

Ao concluir o seu artigo, Zacheu Cordeiro apresenta um estudo em laboratório do próprio dr. Richet sobre o assacú. Zacheu Cordeiro obteve um relatório onde o médico francês fez alguns testes do medicamento em cachorros com o objetivo de entender a ação de toxinas vegetais, como a crepitina que é extraída da Hura crepitinas. Richet investigava as reações do organismo com à injeção de altas doses do assacú, seguido de sua diminuição até provocar a ação almejada, a cura. O estudo foi publicado na revista Presse Médicale, no dia 2 de julho de 1913, cujo título era “La reaction leucocytaire”, no qual o médico francês definia a leucocytaire como “Variação do número de glóbulos brancos no sangue, devido a certas influências physiologicas ou pathologicas”. Esse procedimento assemelhava-se, na visão de Zacheu, às dinamizações das doses dos remédios homeopáticos.

O Dr. Zacheu Cordeiro aproveitou para revelar outro alopata de notório reconhecimento que supostamente havia se utilizado do assacú para tratar um indivíduo infectado com a lepra. Mas dessa vez o seu intuito não era fortalecer a propaganda à homeopatia, ele utilizou a notícia para provocar a classe médica paraense, pois ele trouxe um fato antigo do renomado Dr. Camilo Salgado que havia utilizado o assacú em um dos seus pacientes. Camilo Salgado foi um médico paraense, formado pela Faculdade de Medicina de Salvador, que logo se tornou um dos mais renomados médicos do Pará. Sua fama de médico milagreiro foi tão estimada na sociedade paraense, que mesmo após a sua morte lhe foram atribuídos diversos casos cura, onde indivíduos enfermos iam visitar o seu túmulo e conseguiam a cura após a visita (Costa, 2003).

No decorrer da sua trajetória, Camilo Salgado publicou em um jornal paraense uma cura da lepra utilizando a erva assacú-rana. Assim, o Dr. Zacheu Cordeiro utilizou essa notícia para mostrar que a erva era tão eficaz que até mesmo a medicina alopática havia se rendido a ela, pois o homeopata considerava as duas ervas como tendo o mesmo princípio ativo.

A erva do assacú foi diversas vezes estudada por naturalistas e viajantes que passavam pela região amazônica. O naturalista francês Paul Le Cointe (1947: 55), no Pará se tornou o primeiro Diretor da Escola de Chimica Industrial do estado, e ao estudar o assacú classificou a erva como Hura crepitans, uma árvore de origem amazônica, geralmente encontrada na várzea argilosa alagadiça. Ele indicava a erva não poderia ser ingerida de qualquer forma devido a ação tóxica. O látex extraído do caule do assacú, cujo princípio ativo é a “Hurina” ou “creptina”, e que, a sua seiva era muito cáustica, podendo até gerar queimaduras se entrasse em contato com a pele. Além disso, a infusão das flores masculinas, ou brácteas frescas em pequenas infecções de pele poderia gerar efeito rápido de alívio e diminuição da infecção, contudo necessitava de pequenas doses para não queimar a pele do enfermo. Antônio Baena (2004: 41), um imigrante português formado em história e geografia e que fez carreira militar e política no Pará, também estudou o assacú e acrescentou que a flor que brotava da árvore, bem como o leite extraído, era considerada venenos letais.

Sobre a assacú-rana (Erytrina Glauca Willd), Le Cointe (1947: 46) escreveu que o habitat natural também era a várzea amazônica e que, era útil contra doenças hepáticas, porém em alta quantidade poderia produzir um efeito similar a narcóticos e poderia ser purgativo. Além disso, com as suas raízes, poderia ser produzido um chá antirreumático.

Ambas as ervas possuem origem amazônica, e, possivelmente, já eram utilizadas por comunidades indígenas, mostrando ser um conhecimento desses povos. Na linguagem tupi o assacú ganhava a gravura de buhâ-wapɨ. Era classificada como “grande árvore de seiva lactescente cáustica e tóxica, família das euforbiáceas” (Ramirez, 2019: 40). Além da prática curativa, o assacú era associado à pesca na região amazônica, pois a “A seiva do assacu (Hura crepitans) é empregada pelos Paumari e Apurinã em suas pescarias em grandes lagos ou, ainda, para desentocar cardumes em meio à canarana nas margens do Purus” (Cangussu, 2021: 113). Oclivro de Vocabulário Amazônico confirma essa informação ao trazer a definição de assacú como “Tóxico vegetal, empregado na pesca, para "entontecer" o peixe, - meio nocivo e proibido” (Mendes, 1942: 24). E para embaralhar ainda mais, os Annaes da Medicina Brasiliense ainda publica em uma nota que o “assacú era utilizado na Bahia, com o nome vulgar de molungú ou morungú”.[13] Portanto, percebemos como a planta que daria origem ao remédio contra lepra é de origem amazônica e indígena e que, o conhecimento criado por esses povos circulou e ganhou novos contornos e finalidades.

A utilização do assacú para o tratamento da lepra no Pará já era notada desde 1847, quando o Dr. Antonio Roiz d’Oliveira, médico da corte, ele teria iniciado um tratamento experimental com a aplicação do assacú em paciente do Hospital dos Lázaros, após relatos de “cura da morphea” pela erva de assacú em Santarém. O médico passou a mandar cartas mensais para o Annaes de Medicina Brasiliense, que acompanhava com esperanças o tratamento. Contudo, após alguns meses de estudos feitos na substância, recebendo a atenção de médicos de renome no cenário nacional como o Chernoviz, o Dr. Antonio Roiz informou o pouco valor do assacú no tratamento da lepra. Apesar do veredito da pouca eficácia, houve uma remessa da substância de assacú direcionada ao Rio de Janeiro e uma outra requisição de casca, leite e extrato de assacú feita ao presidente da Província do Pará pelo vice-presidente da Academia, por intermédio do ministro dos Negócios do Império.[14]

Em 1854 é publicado o livro Esplorazione delle regioni equatoriali em Milão do viajante italiano Caetano Osculati mediante da sua passagem à Amazônia no ano de 1846. No livro o italiano relata curas de leprosos com a utilização do suco do assacú. O suco era produzido da casca da árvore, que o viajante dizia conter a maior concentração do princípio ativo. Ele também alertava sobre a necessidade de se ter cautela ao utilizar o suco, pois o mesmo poderia causar todos os sintomas de uma gastroenterite e, em contato com a pele, causava queimaduras. Ele ainda complementava afirmando que “os selvagens” utilizavam o látex da árvore como um poderoso veneno. No decorrer do livro, o italiano, mostra como deveria ser feito o remédio, detalhando as quantidades exatas de casca de assacú a serem utilizadas, a quantidade de água a ser diluída e o tempo de cozimento. O remédio deveria ser ministrado de 2 a 3 vezes em um primeiro momento e após 2 ou 3 dias de repouso, o enfermo deveria repetir o processo, além da ingestão por 8 dias seguidos de pílulas também produzidas do assacú. Com cerca de 200 pílulas, 2 onças do suco com um tempo de tratamento de 5 a 6 meses, o paciente iria obter a cura. Ele terminava afirmando que alguns hospitais do Grão-Pará e de Pernambuco utilizaram o tratamento e conseguiram excelentes resultados.[15]

Nota-se, com o relato do viajante, que o fármaco do assacú observado por ele não era de uso externo ao corpo do enfermo e sim por via oral, mostrando uma diferente forma de ativar o princípio ativo da erva, embora possuísse a mesma finalidade da pomada de Mamerto Cortés: a cura da lepra. Outra informação importante a ser retirada da obra se refere à utilização do assacú pelos indígenas como veneno e não com fins medicinais. Contudo, ele não especifica de onde surgiu o conhecimento da criação da fórmula. Portanto, o conhecimento do princípio ativo do assacú contra lepra pode ter vindo do conhecimento dos povos indígenas da Amazônia e passou a fazer parte do itinerário médico da época a partir da formulação de fármacos e dosagens especificas para disponibilizar um tratamento aos enfermos.

Em um artigo publicado no jornal O Estado do Pará, o Dr. Zacheu Cordeiro apresentou uma outra informação para colaborar com o seu argumento e para defender o uso do assacú. Ele afirmou que durante o período do Império no Brasil, o Dr. Benoit Mure, o divulgador da homeopatia no Brasil, entrou em contato com uma comunidade indígena no interior da floresta amazônica e relatou duas curas de lepra com a utilização do assacú. Na mesma ocasião, um indígena lhe presenteou com um pouco da erva, que foi um fato foi tão notável que o Presidente da Província do Grão-Pará notificou o governo do Império. É possível que o mesmo caso que foi usado no estudo apresentado pelo Annaes da Medicina Brasiliense tenha sido o observado pelo francês. Zacheu Cordeiro continua o artigo afirmando que Benoit Mure havia percebido que o uso da erva era generalizado no local, era de um conhecimento popular para o tratamento da lepra e que, ao analisar o caso dos dois leprosos que haviam sido curados, acrescentou que as feridas pareciam mais suavizadas, do que curadas. O homeopata francês ainda percebeu a ação positiva do medicamento na medula óssea, sendo o assacú um precioso medicamento contra todas as formas de mielite. O uso do fármaco em casos de infecções de pele pode ser positivo, uma vez que “Se os exanthemas e a insensibilidade do tecido cutâneo fôram tão pouco pronunciados, é que certamente dependem de uma fórma chronica, que só um uso prolongado e um envenamento real poderiam produzir”.[16]

Portanto, na forma mais grave da doença, a ação do medicamento ou do envenenamento pelo assacú poderia trazer uma ligeira sensação de diminuição da enfermidade. Zacheu termina o seu artigo tecendo elogios ao Dr. Benoit Mure e o seu estudo sobre a lepra, que percebeu a ação do medicamentosa da erva sobre a medula e a sua ação geral no organismo, abrindo margem para o estudo da ação da erva no tratamento da lepra.[17]

A expectativa do Dr. Zacheu Cordeiro com a publicação do artigo era enfatizar que a suposta ineficácia, pregada pela classe médica paraense, do assacú para a cura da lepra, seria uma tentativa de desmerecer a homeopatia e a sua descoberta. O próprio Benoit Mure teria argumentado, no período que teve contato com o assacú, se tratar de uma fórmula que não trata especificamente a lepra, dando a entender também, que a fórmula do medicamento obtida por Mamerto Cortés era diferente daquela, apesar dos estudos do médico homeopata francês tenha contribuído para a fórmula final.[18] Depois de tanta atenção dada para o assacú durante anos do Império, porque a planta medicinal e o seu valor terapêutico no tratamento da lepra teriam caído no esquecimento, só retornando durante a república com o Mamerto Cortés.

Se percebe também na escrita a tentativa de ligar a fórmula da pomada de assacú a homeopatia. Para entender a possibilidade de ligação entre a prática médica homeopática e a erva, é necessário entender o que Hahnemann acreditava sobre como deveria a ação medicamentosa de um remédio homeopático. Como já mencionado anteriormente, o alemão acreditava que o medicamento produzido dentro das suas concepções médicas deveria produzir uma doença artificial no corpo do indivíduo enfermo, fazendo com que a sua força vital passasse a atacar a doença artificial, que traria menos degradação ao paciente e poderia lhe trazer a cura. Segundo Hahnemann (1984: 26):

Uma afecção dinâmica mais fraca (a doença) é extinta de modo permanente no organismo vivo por outra mais forte (a doença artificial provocada pelo medicamento) quando esta última, (embora de espécie diferente), seja semelhante à primeira em suas manifestações.

Hahnemann também escreveu sobre doenças crônicas e altamente infectantes, como a lepra, na sua obra intitulada de Doenças Crônicas. O médico alemão fala sobre a existência do miasma da psora, classificando-o como “o mais antigo, universal e destrutivo, sendo a causa originária de todas as doenças.” Sobre doenças crônicas, que mais tarde seriam classificadas como sarna e lepra, o homeopata revelava que a ação dos remédios, de sua prática médica, não possuiria efeitos práticos de cura contra doenças crônicas, por conta da sua agudez. Para Hahnemann, essas doenças crônicas miasmáticas não poderiam ser curadas a não ser por intervenções de uma terapêutica específica e, que se não fossem tratadas, poderiam evoluir até levar o indivíduo a morte. (Rebollo, 2008: 104-106)

Hahnemann argumenta:

A todo momento verifica-se que as doenças crônicas não venéreas, após serem repetidamente removidas de modo homeopático por remédios até então experimentados ao máximo, sempre retornavam de forma mais ou menos variada e com sintomas novos, ou reapareciam, anualmente, com suas queixas aumentadas. Este fato indicou-me a primeira pista, que o médico homeopata, com um caso crônico (não venéreo) deste teor e mesmo em todos os casos de doença crônica (não-venérea), não deve somente combater a doença que se apresenta ante os seus olhos, não devendo considera-la ou trata-la como se fosse uma doença bem definida a ser rápida e permanentemente destruída e curada pelos remédios homeopáticos comuns, mas sim que irá sempre encontrar apenas um fragmento separado de uma doença original mais profundamente localizada (Rebollo, 2008: 105).

Para o alemão, a sua concepção médica não seria funcional para tratar doenças mais graves como a lepra. Essa afirmativa se originou de sua própria observação sobre os efeitos práticos dos medicamentos homeopáticos aplicados em seus pacientes, que mesmo aferindo ligeira melhora, a doença retornava no decorrer do tempo. O conhecimento acerca da lepra, no período que Hahnemann formulou os seus estudos, era ainda mais escasso do que no período do Dr. Zacheu Cordeiro. Contudo, a conclusão a que o médico alemão chegou, naquele momento, sobre a lepra, nos ajuda a entender os limites da sua prática médica e a compreender como ela se fortaleceu e se adaptou no decorrer do tempo.

De modo geral, antes do contato com o colombiano, o Dr. Zacheu Cordeiro não tinha registros da fórmula da pomada de assacú. O médico passou a receber uma quantidade como parte do acordo da sociedade que firmou com Mamerto Cortés. A fórmula chega com o colombiano e somente após a sua conversão para a homeopatia, que o remédio passa a ser reconhecido como um remédio homeopático. Contudo, nos artigos publicados pelo Dr. Zacheu não havia qualquer menção aos métodos da farmácia homeopática na fabricação do remédio, não havia nada que indicasse experimentação, dosagem e diluição, portanto, o médico somente buscou ligar o medicamento a sua prática médica. O assacú, causou diversas controvérsias durante o início do século XX, por ser associado com a cura da lepra e com a prática homeopática. De todo modo, o assacú, não teve o seu nome ligado somente ao tratamento de lepra no Pará. Uma fórmula envolvendo a tintura do assacú também foi utilizada para o tratamento da sífilis. Porém, o caso em que é citado a utilização da tintura no combate a sífilis, não possuiu um controle adequado da dosagem por um médico, ocasionando a intoxicação de Marina Soares, de 37 anos, e levando-a à morte.[19] A aplicação do remédio demandava cuidado e estudo por ser altamente venenosa. A notícia não destacava quem teria receitado o tratamento para a enferma, contudo, a utilização da tintura de assacú, desde 1846, era comum no tratamento da sífilis em solo paraense (Amador, 2015: 47).

Considerações finais

A partir das discussões sobre as referências bibliográficas e da análise fontes, principalmente de jornais de época, é notório a existência do conflito entre homeopatas e alopatas no Pará. Esse conflito se evidência a partir do trabalho do Dr. Zacheu Cordeiro, o homeopata foi o principal defensor de sua prática médica no Pará. Zacheu Cordeiro utilizava o jornal para defender o seu tratamento da lepra pela pomada de assacú e indicava ter conseguido supostos casos positivos de cura da doença empregando a pomada de assacú. Contudo, o início da utilização do remédio, foi feito pelo colombiano Mamerto Cortés, gerando uma polêmica, visto que a cura da lepra pelo assacú foi relacionado a um golpe de um charlatão.

Mesmo com diversas tentativas de coibir a atuação de Mamerto Cortés por parte da Junta de Hygiene do Estado, percebeu-se nos grandes periódicos da cidade de Belém, uma grande procura pelo tratamento oferecido pelo colombiano. Essa demanda se dava pela esperança de cura de uma doença tão corrosiva, e ademais pela falta de resposta da medicina oficial à doença, visto que a única resposta das autoridades o isolamento dos enfermos em leprosários. O medo dos enfermos de no momento de dor ficar distante da família, além do estigma da doença na sociedade e a precariedade encontradas dentro dos leprosários, contribuíram a procura da cura milagrosa, do assacú. Nesse sentido, a falta de respostas da alopatia, fortaleceu a homeopatia, que durante a segunda década do século XX, viveu o seu auge no Estado do Pará.

Zacheu Cordeiro surgiu como uma espécie de protetor de Mamerto Cortés e, também, como seu sócio. A proteção ao colombiano não foi gratuita, em troca da tutooria, o Dr. Zacheu Cordeiro recebia uma parte da porcentagem do lucro das vendas da pomada, além frascos do medicamento assacú para o homeopata tratar os seus pacientes. Dessa sociedade surgiu um conflito interno pela patente da pomada de assacú, culminou com o assassinato do dr. Zacheu Cordeiro pelo seu sócio Mamerto Cortés.

Esse crime coloca em discussão, principalmente com o depoimento do colombiano, a questão da patente da pomada de assacú. Mamerto Cortés dizia se sentir roubado e excluído, enquanto o Dr. Zacheu Cordeiro tinha o seu nome exaltado em diversos periódicos como o responsável pela criação de uma suposta cura da lepra. Esse prestígio nunca foi alcançado por Mamerto Cortés, justamente pela sua incapacidade de comprovar a sua formação. A disputa pela patente do remédio, assim como a frustação por ter ficado à sombra de Zacheu, foram as motivações para o assassinato.

Em diversos artigos de Zacheu Cordeiro, ressaltava as bases da homeopatia, a questão das doses infinitesimais e a sua importância para a medicina. Apesar disso, o homeopata não era o responsável de desenvolver o medicamento, visto que recebia o remédio já pronto. Zacheu nem ao menos chegou a possuir a fórmula. Dessa forma, dificilmente o médico homeopático introduziu o remédio as diluições nas quais se baseia a homeopatia e tão pouco se utilizou da experimentação em homens sãos. Em momento algum em seus artigos, Zacheu disse ter feito testes, apesar de escrever sobre a importância da experimentação. Contudo, vale ressaltar que o próprio Hahnemann deixou a sua obra incompleta no que tange o conhecimento de doenças como a lepra, em que ele classificava como crônicas e que os medicamentos homeopáticos não traziam efeitos práticos a enfermidade.

Os primeiros relatos de uso do assacú no tratamento da lepra vem do Império brasileiro, por volta de 1840. Esses primeiros relatos surgem como uma resposta da medicina sobre supostas curas com a utilização da erva, extraída do conhecimento de comunidades indígenas amazônicas. Ainda não foi encontrado fontes que expliquem como Mamerto Cortés chegou a sua fórmula, e se essa é similar com a já apresentadas pelas comunidades indígenas. Apesar de o medicamento ter sido ligado a homeopatia desde o Império por influência da fitoterapia e pela utilização dela por Bento Mure, a fórmula apresentada pelo colombiano não parecia seguir os preceitos da prática médica. O próprio Zacheu Cordeiro se apoiou na fama do medicamento e seu histórico para alcançar prestígio durante a polêmica. Após o assassinato, em diversas buscas dos jornais em meses e anos posteriores, não foi encontrado qualquer menção da pomada de assacú no Pará. A polêmica se encerrou com o assassinato de Zaceu Cordeiro e a fórmula da controversa cura ficou presa junto com o seu detentor Mamerto Cortés.

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Notas

[1] Folha do Norte. 09 de abril de 1924, p.1.
[2] Folha do Norte. 27 de marzo de 1921, p. 1.
[3] Folha do Acre. 21 de diciembre de 1922. “A Lepra: curada com assacú”, p. 1. [Recuperado 1/08/23: http://memoria.bn.br/hdb/periodo.aspx]. Estado do Pará. 19 de abril de 1920. Intoxicação pelo Assacú, p.1.
[4] Jornal Pequeno. 9 de diciembre de 1922. “Pela Medicina: uma creança atacada da lepra ficou curada por um processo medico até então desconhecido”, p. 2. [Recuperado 1/08/23: http://memoria.bn.br/hdb/periodo.aspx].
[5] O Paiz. 1 de julho de 1921, “Notas”, p. 2. [Recuperado 1/08/23: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=178691_05&pesq=Zacheu%20Cordeiro&pasta=ano%20192&pagfis=6406].
[6] O Paiz. 1921, p.1.
[7] Folha do Norte. 01 de junio de 1921.
[8] O Estado do Pará. 07 de julio de 1921, p.1.
[9] O Estado do Pará. 1 de julio de 1921. “A Palavra De Um Sabio: Ainda A Cura Homeopathica Da Lepra Pelo Assacú”.
[10] O Estado do Pará. 01 de julio de 1921, p.1.
[11] O Estado do Pará. 01 de julio de 1921, p. 1.
[12] O Estado do Pará. 01 de julio de 1921, p. 1.
[13] Annaes da Medicina Brasiliense. 1847. “Notas sobre o Assacú”. [Recuperado 1/08/23: http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=442500&Pesq=assacu&pagfis=847].
[14] Annaes da Medicina Brasiliense. 1847.
[15] Souza Araujo, H. C. (1922). A Prophylaxia da Lepra e das Doenças Venereas no Estado do Pará. Centenário da Independência e a Conferência Americana da Lepra. Vol II. Belém-Pará: Livraria Clássica, pp. 49 a 51.
[16] O Estado do Pará. 29 de junio de 1921, p.1.
[17] O Estado do Pará. 29 de junio de 1921, p.1.
[18] O Estado do Pará. 29 de junio de 1921, p.1.
[19] Estado do Pará. 19 de abril de 1920, p.1.
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